1 de novembro de 2009

Irrepreensíveis



No final da tarde do dia 31 de Outubro (Halloween) o hall do Barbican Center estava preenchido por um público diferente. Além dos ocasionais mascarados, aquilo mais parecia um convenção Indie. Todos os apontamentos estéticos, escolhidos a dedo, e a pose, gritavam: Eu sou indie e vim ver os Grizzly Bear! É comum em Londres. A palavra indie já não faz muito sentido. Indie vem de independent e nesta cidade o que é indie é mais mainstream do que sei lá o quê. Looking on the bright side parece-me melhor (ou mais agradável à vista) do que os góticos estarem na moda. Indie está in, e portanto Grizzly Bear também. St Vincent...essa por aqui parece ainda caber na parcela do indie não mainstream, sendo este conceito uma contradição por si só.





Annie Clark entrou em palco às 20h, de vestido preto, a combinar com os caracóis e a guitarra. Podiamos perdê-la de vista naquele palco gigante, e já preparado para uma orquestra tocar. Ao seu lado trouxe Daniel Hart que durante a maior parte do tempo a acampanhou ao violino. Ela estava claramente nervosa, talvez por (tal como a própria nos disse, na única, e ofegante, longa frase que conseguiu proferir ao público) estar a fazer a abertura de um concerto único que nos deixaria de queixo caído. 

Apesar de ter escolhido começar com Marry me,  cantou maioritariamente canções do novo álbum. 

Os dois músicos não conseguiram encher o palco imponente e uma sala com um público que durante o concerto se levantava para ir comprar cervejas e etc. Mas Annie fez tudo bem, e dançou em constantes movimentos robóticos em que carregava nos botões do sintetizador. Merecia uma sala mais pequena e um público mais dedicado. Mas eu gostei daqueles curtos 40 minutos em que fez o barulho e a harmonia cruzarem-se tão bem.





O momento esperado por um Barbican Hall esgotadíssimo estava então a chegar e os instrumentos estavam a ser preprados. À sua entrada os Grizzly Bear foram recebidos em ovação: à inglesa está claro. Bem contida. Very proper diria eu. Faltavam mais algumas cervejas para uma reacção mais autêntica. 


Os Grizzly Bear tinham por detrás um orquestra completa  e nós preparávamo-nos para ver um concerto belíssimo e a uma prova de profissionalismo incrível. Não consigo apontar um erro. Perante os meus olhos e ouvidos pouco educados, os Grizzly Bear portaram-se como incríveis músicos ao lado de uma orquestra algo intimidante. 

As suas canções pareciam estar preparadas desde sempre para serem tocadas em tais proporçoes. Elas preencheram a sala.


Por entre os músicos corria uma linha com lâmpadas de uma luz em amarelo quente, que acendiam e apagavam ao ritmo da música. Holofotes preenchiam-nos a eles de luzes fluorescentes, tal como no video do primeiro single de Veckatimest "Two weeks". Ao fundo, sem ornamentos, a não ser as formas e cores dos inúmeros instrumentos, a orquestra e o maestro sempre sóbrios a fazer o seu papel. Foi uma noite em que se cruzaram dois mundos, que afinal não são assim tão diferentes, e foi-nos oferecida uma perfeição de acordes.



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