19 de agosto de 2010
10 de março de 2010
You can be whomever you want
Podem, a partir de hoje, considerar-me oficialmente técnica administrativa. E como da criatividade bebem os fracos, é assim que me imagino:
24 de novembro de 2009
10 de julho de 2009
Irremediável
Cada vez que saio de Portugal, sempre na maior das ânsias para partir, e vivo durante um tempo noutro país, deparo-me com a minha incongruência.
Portugal tem rédeas que não suporto, mas sou irremediavelmente Portuguesa.
Afinal é em Portugal que está a minha expressão mais clara, os meus outros corações, as paisagens que melhor conheço.
Sempre que saio de Portugal deparo-me com o facto de que viver noutro lugar é arrancar um pouco da minha pele.
Gosto de sair de Portugal e melhorar - aprender a viver melhor. Misturar modos de vida de outros lugares e levá-los de volta para a minha cidade. Mas Lisboa não muda, e eu mudo.
As rédeas, e os homens que as tomam, prendem Lisboa, e o sítio de onde sou, de repente, não é o que desejo, mas é onde pertenço.
28 de maio de 2009
25 de fevereiro de 2009
Uma gota
Seguras a gota que escorre pelo canto da minha boca,
E que segue do meu lábio para o teu dedo.
Seguras-me a face com a palma da mão e eu deixo-me ir,
De olhos fechados.
Foi a primeira gota caída,
Aquela de que padeci.
Paisagens
És quente e afagas a tábua de madeira com o teu sol,
Pelo contrário, és fria e glacial, esfumaças.
O filtro corado protege-te.
Se escorregasses por esse monte verde abaixo, ias parar ao mar,
Ele iria receber-te de onda aberta e erguida,
Suave, ao contrário do que pensas.
Imagina-te depois de tal viajem, por entre os montes e o mar,
A deixar o sol secar-te na pele,
A criar crosta.
Limitas-te a espreitar por entre as rochas;
És sombra reflectida nas águas dos pequeninos lagos,
Devias erguer-te e efervescer,
Fazer crescer a tua força.
24 de fevereiro de 2009
Um poema por dia
"O zig-zag na escarpa sobre as cataratas do rio,
O turbilhão no cadaste,
A celeridade da rampa.
O enorme colume da corrente,
Levam sob a luz inaudita
E a surpresa química
Os viajantes cercados pelas trombas do vale
e do strom.
São os conquistadores do mundo
Em busca da fortuna química pessoal;
Desporto e conforto viajam com eles;
vai com eles a educação
Das raças, das classes e dos bichos, sobre este barco
Repouso e vertigem
Na luz diluviana,
Nas terríveis tardes de estudo.
Pois das conversas entre os aparelhos, o sangue, as flores o fogo, as jóias,
Dos cálculos ansiosos deste barco fugitivo,
- Vemos, rolando como um dique frente à roda hidráulica motora,
Monstruoso, iluminando-se sem fim, - o seu stock de estudos;
Imersos no êxtase harmónico,
E no heroísmo da descoberta.
Ante os mais surpreendentes acidentes atmosféricos,
Um par jovem isola-se na arca
- Antiga selvajaria consentida? -
E coloca-se e canta."
Jean-Arthur Rimbaud
(tradução Mário Cesariny)
8 de fevereiro de 2009
Um tiro
Ele deu um tiro nos cornos.
Os cornos que lhe tinham nascido rugosos, ferindo-lhe a testa.
Um tiro que lhe acabou com as culpas e com as vozes que vinham de dentro e de fora, lembrando-o da podridão que levava dentro.
Ele deu um tiro nos cornos para acabar com as tormentas e deixar por cá, com as suas, quem ele troçou.
Um tiro que levava dentro a sujidade de um mundo decomposto e invertido.
Ele brincou aos poderosos e aos ricos. Mas tramou-se. Afinal era fraco demais para o peso da culpa.
Deu um tiro nos cornos.
Mal tenha carro ligo-te.
Poder ser que queiras ir dar uma volta.
Parar ao luar e ver as pontes.
Gostava de ir visitar-te, mas sei que não gostas de surpresas.
Sempre fui uma surpresa para ti.
Se desenhasse um mapa da nossa viagem ias rir-te.
Afinal a nossa viagem foi só minha.
Espero aqui na varanda e vou recebendo umas visitas.
Pode ser que queiras aparecer.
Eu gosto de surpresas.
6 de fevereiro de 2009
I.
Calcula tu a posição invertida em que estou.
Ando com a cabeça, penso pelos pés, como pelos tornozelos, e parece-me que não ouço.
Estou um pouco tonta.
II.
Sou perseguida pela forma perfeita das coisas. Calculo o gesto capaz de ferir. Sou animal claro na escuridão, e sei pouco da vida.
A mim diz-me mais o horizonte do que a chegada.
Imagino as cores, mas não as sei pintar.
Sou demasiado imperfeita para a perfeição que me persegue.
III.
Só espero que a desgraça me seja acudida num encontro pouco provável e que Ele me descubra a excentricidade.
IV.
Quis que tomasses conta dos meus olhos sem o saberes. Pus em tuas mãos toda a minha ânsia por um olhar claro. Assim fiquei cega.
De repente surges, trazendo contigo a minha visão antiga. Com ela irrompe a fealdade de todas as coisas que me assombram, e a dor de quem não quer ver a verdade.
V.
Do teu olhar espero mais do que o nada que trago dentro.
Espero tudo de ti e da vida. A excitante sensação do novo num olhar sedento e fresco de alguém pronto a partilhar.
Sinto medo de todo o pequeno sinal, e apesar de querer muito, não me atrevo.
Talvez esta seja a altura em que tudo vai ser. É o que sinto! E nada em mim deixa prevalecer a mentira do que vivo.
Não acredito na verdade e sei bem que a sua busca tudo deturpa. O dia vale tudo. A hora. O minuto. A sensação. Pára de pensar. Não anseies mais e vive. Sente tudo.
11 de junho de 2008
Excessos Passados
Excesso I.
Encontrei-o. Vivi-o repentino num crespúsculo.Mas não quis ficar.
Resiste na minha memória. Alimenta a solidão e o vazio de nunca antes ter sentido alguém assim.
Podem concluir que me apaixonei por uma ideia. Mas é a minha própria ideia.
É mais real do que uma qualquer sensação de outro. E quero vivê-la. E não posso. Sem ele.
Apenas ele soubesse que depois daquele ímpeto não esqueci nada,
nem uma palavra por ele proferida, nem um movimento.
Apenas ele soubesse que cada vez que me olha eu caio,
que era capaz de tudo,
que ía valer a pena,
que (a) pesar de tudo vejo o que ele tem de melhor.
Apenas ele pudesse ler a minha subserviência...
Aí ele ía querer-me, nem que fosse como serva debruçada perante seu ego inflamado.
Excesso II.
Procuro o que não me querem dar.
Busco o impulso de um que tal como eu, não sabe onde, nem quem.
Quero entregar-me.
E não aceito esse medo cínico de quem diz não procurar.
Não aceito o prazer desmiolado. Não aceito quem escolhe não olhar para além do que se vê.
Não aceito seres dissimulados. Não aceito máscaras que contaminam. Não as uso.
Não quero passear por aí. Não quero charme, nem recreio. Quero o que é, e o que pode ser. Quero honestidade.
Sou quem procura. Sou a que encontra mas não é encontrada.
Entrei pela pior das portas, e não a consigo fechar. Estou a contemplar um caminho pelo qual não andarei,
e ainda não acredito.
Este é o início tardio da minha história. A história de quem acredita, agora que todos tentam esquecer.